Manisfesto

Mercado Audiovisual Reaquece Demanda por Representatividade Real

Pioneira no setor, Proud Filmes defende elencos genuínos e propõe ruptura com estereótipos

Num cenário audiovisual saturado por conteúdos multiplataforma, a autenticidade se tornou um diferencial indispensável — e desafiador. Para Paulinha Azevedo, fundadora da Proud Filmes, uma das primeiras produtoras especializadas em casting com foco em diversidade no Brasil, a chave está em construir elos reais entre personagens e público. “A representatividade precisa ser vivida, não apenas exibida”, afirma.

Com mais de 14 projetos entre filmes e séries nacionais e internacionais no currículo, Paulinha explica que não basta cumprir a pauta da diversidade. É preciso entendê-la a fundo. “Cada personagem carrega um universo. E cada intérprete também. O risco de distorcer essas vivências por falta de escuta ou de preparo é enorme — e injusto com quem deveria se ver representado.”

A Proud Filmes, fundada por Paulinha e Sarah Lessa durante a pandemia, nasceu com esse propósito: romper com o apagamento cultural e oferecer soluções criativas, éticas e assertivas para a escolha de elenco em filmes, séries e campanhas publicitárias. A dupla une formações complementares — Paulinha vem do marketing, roteiro e produção executiva, enquanto Sarah tem trajetória sólida em teatro, dramaturgia e atuação.

Elencos que refletem o mundo real
“Acreditamos em elencos que mesclam atores profissionais com talentos da vida real — pessoas que carregam consigo saberes locais, experiências legítimas e olhares únicos”, destaca Paulinha. A equipe da Proud imerge no universo de cada projeto, atuando desde a pré-produção com foco estratégico. “Nosso trabalho vai além de preencher uma OD. É sobre traduzir a essência da narrativa com autenticidade.”

Exemplos não faltam

“Pedaço de Mim” (Netflix) — produção coordenada por Paulinha, indicada ao Rose d’Or Latinos 2025.

“O Ninho” (Netflix) — documentário também indicado ao prêmio latino.

“Fuja Se For Capaz” (Gloob) — programa infantojuvenil em que Paulinha assinou a seleção dos participantes.

Resistências ainda persistem

Mesmo com os avanços, os bastidores continuam marcados por desigualdades. “Apesar do discurso de inclusão, o mercado segue preso a estereótipos e estruturas misóginas”, afirma Paulinha. “É nossa missão propor múltiplos arquétipos para os mesmos perfis, desconstruindo o olhar único.”

Sarah complementa: “Entrar em uma indústria que nunca foi feita para nos receber é desafiador. Mas estamos aqui para furar essa bolha — e trazer os nossos com a gente.”

A publicidade também precisa evoluir

A atuação da Proud se estende à publicidade, onde as pressões por diversidade crescem, mas a execução ainda patina. “Já escalamos bandas de rock reais, famílias inteiras, músicos de orquestra, dançarinos de funk, jogadoras de vôlei e até um caboclo de lênca do maracatu rural”, conta Paulinha. “Quando esses corpos entram em cena com verdade, o impacto é inegável.”

Para além do eixo RJ-SP

Para 2025, a meta é clara: descentralizar. A Proud quer ampliar seu alcance para além do eixo Rio–São Paulo, destacando talentos de outras regiões. “A diversidade não é um selo de imagem. É um pilar da construção narrativa”, conclui Sarah.